home

search

Fim de um sonho, começo de um pesadelo.

  Lucien estava jogado no ch?o frio do banheiro, sua respira??o entrecortada e pesada. Seu cora??o batia t?o rápido que ele achou que fosse explodir.

  Seus pensamentos giravam como uma tempestade violenta, se chocando uns contra os outros, incapazes de se organizar. O que estava acontecendo? O que aquilo significava?

  Ele tentou se levantar, mas suas pernas estavam fracas. Ele sentia como se algo estivesse sendo arrancado dele, como se sua própria existência estivesse em xeque.

  Ent?o, ele ouviu passos apressados do lado de fora.

  — Lucien!

  A voz de sua m?e.

  A porta foi aberta com for?a, e sua família invadiu o banheiro, os rostos carregados de preocupa??o. Sua m?e foi a primeira a se ajoelhar ao seu lado, as m?os trêmulas segurando seu rosto.

  — Meu amor, o que aconteceu?

  O tom dela era suave, cheio de afeto, mas aquilo só fez a angústia de Lucien aumentar.

  — Filho! — a voz de seu pai soou mais grave, firme, mas cheia de preocupa??o. Ele se abaixou ao lado da esposa, segurando o ombro de Lucien. — Você está pálido... você está tremendo.

  Lucy correu até ele e envolveu sua cintura em um abra?o apertado.

  — Maninho, você tá doente? Você tá com medo de alguma coisa?

  Lucien queria responder. Queria dizer alguma coisa. Mas as palavras estavam presas em sua garganta.

  O que ele poderia dizer? Que olhou para o espelho e n?o se viu? Que, por um breve momento, teve a terrível sensa??o de que nada daquilo era real?

  N?o... aquilo era real. Tinha que ser.

  Ele apertou os olhos com for?a, tentando afastar a sensa??o opressiva que o engolia.

  Sua m?e puxou-o para perto, envolvendo-o em seus bra?os quentes e acolhedores.

  — Está tudo bem, querido. Isso vai passar...

  Os bra?os dela eram um porto seguro. O cheiro suave de flores que emanava de seus cabelos era o mesmo que ele se lembrava desde pequeno.

  Aos poucos, lágrimas come?aram a escapar de seus olhos.

  Ele n?o queria duvidar. N?o queria questionar. Ele só queria se perder naquele abra?o.

  — Isso vai passar... — ela repetiu, acariciando seus cabelos.

  Lucien solu?ou.

  — M-m?e...

  Ela o abra?ou mais forte, como se pudesse protegê-lo de qualquer coisa.

  — Eu estou aqui, meu amor. Mam?e está aqui.

  As palavras dela afundaram fundo dentro dele, quebrando alguma coisa.

  Ele chorou.

  Chorou como uma crian?a indefesa, agarrando-se à única coisa que parecia real.

  Seus pais. Sua irm?.

  Aquela casa.

  Aquela vida.

  Tudo aquilo era real... n?o era?

  Ent?o por que... por que ele sentia que estava prestes a perder tudo?

  Seus solu?os ficaram mais fortes.

  Sua m?e sussurrava palavras de conforto, seu pai segurava sua m?o, Lucy o abra?ava apertado.

  Mas algo dentro dele gritava.

  Aquele pesadelo. Aquelas vis?es de fome, de frio, de medo.

  Por que pareciam mais reais do que tudo isso?

  Por que ele n?o conseguia se ver vivendo uma vida t?o feliz?

  De repente, um pensamento cruel perfurou sua mente como uma lamina afiada.

  "Isso n?o é mentira."

  Seu cora??o se apertou.

  "Isso tudo é mentira."

  Ele arfou, seus olhos arregalando-se.

  Seus bra?os apertaram o corpo de sua m?e, como se seu próprio desespero pudesse impedi-la de desaparecer.

  — N-n?o...

  Ele sentiu seu pai apertar seu ombro.

  — Está tudo bem, filho. Estamos aqui.

  Lucy ergueu o rosto, com os olhos marejados.

  — N?o chora, maninho... a gente tá com você.

  Lucien fechou os olhos com for?a.

  “Isso tudo é… falso.”

  Lucien olhava para os rostos amorosos de sua família, sentindo o peito apertar a cada batida de seu cora??o. O calor do abra?o de sua m?e, a for?a reconfortante da m?o de seu pai sobre seu ombro, a delicadeza do toque de Lucy ao seu redor... tudo aquilo era t?o real.

  Mas ele sabia.

  Sabia que era mentira.

  E, mesmo assim, ele queria se agarrar àquela mentira.

  Lágrimas quentes caíam de seu rosto, e sua voz saiu embargada quando finalmente encontrou for?as para falar:

  — Eu... eu amo vocês...

  O abra?o ao seu redor apertou-se. Sua m?e deslizou os dedos por seu cabelo, seu pai segurou sua m?o com mais firmeza, e Lucy se encolheu contra ele, como se n?o quisesse soltá-lo nunca mais.

  — Eu sei que isso n?o é real... — Lucien continuou, com a voz trêmula — mas, mesmo assim, eu sou grato. Grato por ter tido vocês, mesmo que tenha sido só por um tempo.

  Seus solu?os o interromperam. Ele sentia como se seu cora??o estivesse sendo arrancado de dentro dele.

  — Eu fui feliz aqui.

  Suas m?os apertaram os bra?os da m?e com for?a.

  — Feliz de verdade.

  Seu pai passou um bra?o ao redor de seus ombros e apertou-o contra si.

  — Você sempre foi forte, Lucien.

  Sua m?e beijou o topo de sua cabe?a, as lágrimas dela caindo sobre seus cabelos.

  — E corajoso.

  Lucy fungou, escondendo o rosto contra o peito dele.

  — E o melhor irm?o do mundo...

  Lucien mordeu o lábio, tentando conter o desespero que crescia dentro dele.

  — Eu tentei... tentei de tudo para sobreviver. Fiz coisas que eu n?o queria fazer. Roubei, menti, enganei...

  Suas m?os tremeram.

  — Fiz de tudo para proteger a Lucy.

  Seus pais o apertaram ainda mais forte.

  — E agora...

  Sua respira??o ficou presa na garganta.

  — Agora eu estou prestes a morrer...

  If you discover this narrative on Amazon, be aware that it has been stolen. Please report the violation.

  Sua m?e arfou, e Lucy ergueu a cabe?a, os olhos arregalados e cheios de lágrimas.

  — N?o, maninho... n?o fala isso...

  Lucien engoliu em seco.

  — Eu fui ingênuo. Acreditei nas pessoas erradas. E agora...

  Suas m?os fecharam-se em punhos.

  — Agora Lucy vai ficar sozinha.

  Seu pai sacudiu a cabe?a, segurando seus ombros com for?a.

  — N?o. Isso n?o vai acontecer.

  Lucien riu, uma risada amarga, repleta de dor.

  — Eu queria acreditar nisso...

  As lágrimas escorriam sem controle.

  — Mas eu falhei.

  Sua m?e o apertou com mais for?a.

  — Você n?o falhou, meu amor.

  Lucien negou com a cabe?a.

  — Eu falhei com vocês. Eu falhei com Lucy.

  Ele se afundou no abra?o deles, desejando, implorando para que aquilo fosse real. Para que ele pudesse ficar ali para sempre.

  Seus pais come?aram a sussurrar palavras gentis contra seus cabelos.

  — Você é especial, Lucien. Sempre foi.

  — Forte e corajoso.

  — O menino que nunca desistiu, mesmo quando o mundo foi cruel.

  Lucy solu?ou contra ele.

  — Meu irm?o, meu herói.

  Lucien fechou os olhos, deixando que o calor de suas palavras o envolvesse.

  — N?o importa o que aconte?a — seu pai disse, sua voz firme, mas cheia de amor — n?o importa onde você esteja ou o que fa?a. Você sempre será nosso filho.

  Sua m?e assentiu, as lágrimas escorrendo por seu rosto.

  — O nosso precioso filho.

  Lucy segurou sua m?o com for?a.

  — O nosso Lucien.

  Lucien respirou fundo, tentando conter o choro que amea?ava rasgá-lo por dentro.

  E ent?o, sua m?e sussurrou:

  — Lucien... aquele que nasceu na luz.

  Ele abriu os olhos, encarando-a com surpresa.

  Seu pai sorriu, seus olhos brilhando com orgulho.

  — Seu come?o foi sombrio, filho.

  Lucy acariciou seu rosto.

  — Mas o seu final...

  Sua m?e sorriu com do?ura, mesmo com as lágrimas escorrendo.

  — O seu final será glorioso.

  Foi ent?o que Lucien ouviu um estalo.

  Ele ergueu a cabe?a e viu o espelho à sua frente.

  Uma rachadura fina e solitária havia surgido no vidro.

  Seus olhos arregalaram-se.

  Outro estalo.

  A rachadura se espalhou, como raízes crescendo rapidamente.

  — N-n?o... — Lucien sussurrou.

  Mas seus pais continuavam sorrindo para ele.

  O vidro trincou ainda mais.

  — Eu n?o quero ir... — ele choramingou.

  Sua m?e acariciou seu rosto.

  — Você precisa, meu amor.

  Lucy o abra?ou com mais for?a.

  — Você tem que voltar.

  O vidro rachou mais.

  Lucien sacudiu a cabe?a, o desespero crescendo.

  — Mas... e vocês...?

  Seu pai apertou seu ombro, sua voz suave.

  — Nós sempre estaremos com você.

  O espelho estalou violentamente.

  As rachaduras se espalharam, cobrindo toda a superfície do vidro.

  Lucien sentiu o cora??o afundar.

  — N?o...

  Ent?o, tudo se quebrou.

  O espelho explodiu em mil peda?os.

  E, no instante seguinte, a escurid?o o envolveu.

  Lucien estava encolhido na vastid?o da escurid?o, os bra?os envolvendo os próprios joelhos, os ombros sacudindo a cada solu?o silencioso. A dor no peito que antes o incomodava já n?o importava mais.

  A dor da angústia, do luto por algo que nunca foi real, era muito pior.

  Ele havia perdido tudo.

  Os rostos de sua família ainda estavam gravados em sua mente, suas vozes ecoando em sua cabe?a como um sonho distante. Seu lar, sua infancia roubada... tudo aquilo que ele desejou por tanto tempo, e que por um breve momento ele teve a chance de tocar. Mas n?o passava de uma ilus?o.

  A única coisa que restava era Lucy.

  Sua irm?.

  O único la?o verdadeiro que ele ainda possuía.

  E por ela…

  Por ela, ele precisava viver.

  Lucien ergueu o rosto, limpando as lágrimas com a manga da camisa esfarrapada. Sua respira??o estava instável, seu corpo ainda tremia, mas havia uma decis?o sendo tomada dentro dele. Ele queria viver.

  Foi ent?o que algo aconteceu.

  Do vazio da escurid?o, algo come?ou a se formar.

  Uma única lágrima caiu de seus olhos, flutuando na escurid?o sem fim. Assim que a gota cristalina tocou o vazio, as sombras ao redor come?aram a se agitar.

  Lucien arregalou os olhos quando viu a escurid?o se moldando diante dele, tomando forma, criando contornos. Primeiro, um vulto. Depois, fios negros, longos e lisos como seda. Olhos sombrios e afiados, que o encaravam como se pudessem ver cada peda?o de sua alma.

  Era… ele?

  Lucien piscou, tentando compreender o que estava diante dele.

  A figura tinha a mesma altura, os mesmos tra?os. Mas… algo estava diferente.

  Havia algo na presen?a daquele ser que fazia sua pele se arrepiar.

  Uma imponência silenciosa.

  Uma presen?a avassaladora.

  Lucien abriu a boca para falar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

  Foi ent?o que a figura falou.

  E toda a alma de Lucien congelou.

  — Eu sou Aether.

  O cora??o de Lucien parou.

  Sua respira??o falhou.

  Ele sentiu cada fibra de seu ser estremecer.

  Era como se aquelas palavras tivessem atingido algo profundo dentro dele, algo que ele n?o compreendia, algo que ele n?o sabia que existia.

  Seus olhos se arregalaram ainda mais, sua boca secou, sua mente se recusava a processar o que havia acabado de ouvir.

  Aether...?

  O nome ecoava dentro de si como uma verdade inevitável.

  Lucien sentiu o desespero tomar conta de seu peito novamente.

  O que... o que estava acontecendo?

  O silêncio entre os dois era profundo, sufocante. A escurid?o ao redor parecia se curvar ao redor daquela figura imponente, como se a própria sombra o reverenciasse.

  Lucien engoliu em seco.

  Ele queria falar, queria gritar, queria negar tudo aquilo. Mas, de alguma forma, ele sabia que o que aquele ser dizia era verdade.

  Aether…

  — Você me parece confuso, garoto. — A voz do homem ecoou, suave, porém carregada de algo que Lucien n?o conseguia descrever. — Mas n?o há necessidade de confus?o. Eu estive esperando por você.

  Lucien arregalou os olhos.

  — E-esperando...?

  Aether inclinou levemente a cabe?a, os olhos afiados analisando cada detalhe do garoto à sua frente.

  — Alguém com uma alma capaz de suportar o peso do meu poder. Alguém cuja essência pudesse me conter sem se despeda?ar imediatamente.

  Lucien sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

  — O... o que isso significa?

  Aether n?o respondeu de imediato. Ele apenas observou Lucien com uma express?o que beirava a curiosidade e, talvez, algo semelhante à satisfa??o.

  — Significa que, entre todos que vieram antes de você, suas almas frágeis n?o passaram de meros recipientes quebradi?os. N?o suportavam. Se desfaziam. Morrendo no momento em que tentavam carregar o que n?o podiam.

  Lucien estremeceu.

  — E eu…?

  — Você, por outro lado... — Aether estreitou os olhos, como se analisasse cada peda?o da alma do garoto. — Sua alma é vasta. E mais do que isso... tem potencial.

  Aquelas palavras fizeram o cora??o de Lucien bater mais rápido.

  Potencial?

  Ele?

  O que isso significava?

  Aether deu um passo adiante, e Lucien quase recuou, mas algo o impediu.

  — Você é incompleto, garoto. — A voz de Aether era firme, sem hesita??o. — Sua alma, apesar de vasta, tem um único ponto que a preenche.

  Lucien engoliu em seco.

  Ele já sabia o que viria a seguir.

  — Lucy.

  O nome de sua irm? foi dito com uma certeza inquestionável.

  Lucien apertou os punhos.

  — E isso é ruim?

  Aether ergueu uma sobrancelha.

  — N?o. Mas significa que, eventualmente, você será preenchido por mais.

  Lucien sentiu um arrepio.

  — O... que quer dizer com isso?

  Aether sorriu, mas n?o era um sorriso amigável.

  — Que um dia, garoto, sua alma será inundada por puro poder.

  Lucien sentiu a respira??o falhar.

  Era difícil entender o que aquilo significava, mas ao mesmo tempo... aquelas palavras causavam um impacto profundo dentro dele.

  Poder...

  Ele nunca pensou muito sobre isso.

  Mas agora...

  Agora ele sentia necessidade.

  Ele precisava de poder.

  Precisava para sobreviver.

  Precisava para proteger Lucy.

  — Você quer isso, n?o quer?

  A voz de Aether era baixa, mas intensa.

  Lucien hesitou.

  Ele queria.

  Ele precisava. Os dois homens iriam matá-lo a qualquer momento, mas o que ele poderia fazer? Era fraco e inútil.

  Mas ao mesmo tempo...

  — Eu n?o sou forte...

  Aether riu.

  Uma risada baixa, quase desdenhosa.

  — N?o seja tolo. Você nem sequer precisa de mim para lidar com aqueles vermes.

  Lucien arregalou os olhos.

  — O quê...?

  — Mesmo sendo verde, mesmo sem controle, você já é mais do que capaz.

  Lucien abriu a boca, mas nada saiu.

  Aether o observou com algo parecido com expectativa.

  — Você n?o precisa pegar emprestado de mim, garoto. A for?a que você busca já está dentro de você. Eu apenas irei expandi-la em breve.

  Lucien sentiu um arrepio atravessar sua espinha.

  — Mas... como?

  Aether o encarou por longos segundos antes de responder.

  — Apenas descubra a origem de sua magia por enquanto. Use-a, e veja acontecer.

  Lucien sentiu seu cora??o disparar.

  Ele n?o entendia completamente.

  Mas algo dentro dele...

  Algo dentro dele come?ava a ansiar por aquilo.

  A realidade o atingiu como uma lamina fria.

  Lucien arfou, sentindo o choque brutal ao ser arrancado da escurid?o e lan?ado de volta ao mundo real. Seu corpo tremia violentamente, uma dor absurda percorrendo cada fibra de seu ser.

  A magia negra do assassino continuava a dilacerar sua alma.

  Ele sentia.

  Sentia como se estivesse sendo despeda?ado por dentro, como se partes suas fossem arrancadas e levadas para um lugar onde jamais poderiam ser recuperadas.

  O homem sem nome estava tenso, o olhar cravado no assassino, suando frio pela demora do processo.

  — O que diabos está acontecendo? — ele rosnou, frustrado.

  O assassino n?o respondeu. Seu rosto estava pálido, os músculos retesados, a express?o distorcida em um misto de dor e esfor?o.

  Lucien ignorou tudo isso.

  Porque, pela primeira vez, ele n?o sentia apenas a dor.

  Ele sentia algo além.

  Sentia...

  Os reflexos.

  Eles chamavam por ele.

  Mais alto do que nunca.

  Como um sussurro que ecoava em sua alma.

  Como algo que sempre esteve ali, esperando.

  E agora...

  Agora ele finalmente ouvia.

Recommended Popular Novels