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A beira do limite

  A dor era insuportável. O simples ato de respirar fazia com que cada fibra do seu corpo protestasse em agonia. Seus dedos latejavam, o vazio onde antes estavam suas unhas pareciam pulsar como se algo ainda estivesse arrancando, e seu rosto estava coberto de sangue seco, resquícios da última sess?o de tortura. Seu olho esquerdo estava inchado, dificultando sua vis?o.

  Lucien se recusava a chorar. Ele n?o daria esse prazer ao seu torturador.

  O Homem Sem Nome estava à sua frente, observando-o com um sorriso satisfeito, girando a bússola de ouro entre os dedos. Os artigos refletem a luz fraca da sala, lan?ando um brilho dourado no rosto do homem.

  — Sabe, garoto... — ele come?ou, sua voz contou de um tom quase paternal. — Você pode n?o entender, mas essa dor que sente? Ela é totalmente necessária.

  Lucien tentou soltar uma risada seca, mas acabou cuspindo sangue no ch?o.

  — Engra?ado... n?o parece desnecessário pra mim.

  O Homem Sem Nome suspirou, passando a m?o pelos cabelos como se estivesse lidando com uma crian?a teimosa.

  — Você é jovem demais para entender, mas a Lágrima de Aether n?o é apenas uma joia bonita. N?o é apenas um projeto artístico. Ela é algo muito maior.

  Ele se segue abaixo para ficar no mesmo nível que Lucien, seu olhar penetrante.

  — Aether... — ele sussurrou o nome como se estivesse proferindo uma prece — é a essência da magia em sua forma mais pura. Você sabia disso?

  Lucien conversa em silêncio, o cora??o batendo forte contra o peito.

  — N?o, é claro que n?o sabia. Mas vou contar uma história...

  Ele se avan?ou, come?ando a caminhar lentamente pela sala, os passos ecoando nas paredes de pedra.

  — Há séculos, um homem tentou desafiar os próprios deuses. Ele desejava o conhecimento absoluto, o poder sem limites. Ent?o, ele criou algo que pudesse conter a própria magia em seu estado mais puro. Ele criou a Lágrima.

  Ele se virou abruptamente, os olhos faiscando.

  — Mas os deuses, invejosos como sempre, n?o permitiram que tal poder permanecesse em uma única m?o. A Lágrima foi roubada, escondida, perdida no tempo. Até que finalmente... eu a encontrei.

  Lucien franziu à testa.

  — Você encontrou?

  O Homem Sem Nome é oferecido de lado.

  — Bem... quase.

  Ele aplica a bússola de ouro e gira entre os dedos.

  — Essa pequena maravilha me levou até a Lágrima. Eu sabia onde ela estava antes de qualquer outro. Mas eu preciso de um todo ingênuo o bastante para atravessar as defesas e pegá-la para mim.

  O cora??o de Lucien gelou.

  — Você... me usou.

  — Usei. — O Homem Sem Nome transmite. — Você foi uma pe?a perfeita. Pequeno, ágil, esperto. Mas, como um bom ladr?o, ficou com aquilo que n?o era seu.

  Ele se inclina, seus olhos se estreitam.

  — Me diga, Lucien... onde está a Lágrima?

  Lucien queria gritar. Ele n?o fazia ideia de onde estava. Mas n?o importava quantas vezes dissesse isso, o homem n?o acreditava.

  O torturador pegou outra ferramenta da mesa. Dessa vez, era uma lamina fina e afiada.

  — Se você n?o me disser... ent?o precisarei de outra abordagem.

  Lucien prendeu a respira??o. Ele sabia que aquilo só estava come?ando.

  O espelho à frente de Lucien n?o estava ali por acaso. O Homem Sem Nome era um torturador experiente, e a simples dor física já n?o era suficiente para satisfazê-lo. Ele queria mais. Ele queria quebrar suas vítimas por completo—o corpo, a mente e a alma.

  Lucien percebeu isso assim que abriu os olhos e viu seu próprio reflexo. Mesmo sob a pouca luz da sala, ele p?de ver o rosto coberto de sangue, os olhos fundos e opacos, o peito subindo e descendo em desespero. Mas n?o era só isso. Ele via o medo. Via sua própria fragilidade.

  O Homem Sem Nome riu ao notar o olhar de Lucien fixo no espelho.

  — Interessante, n?o é? — Ele deslizou os dedos pela moldura de madeira, um brilho doentio nos olhos. — Há algo de fascinante em ver a si mesmo ser despeda?ado, n?o acha?

  Lucien n?o respondeu.

  — Dói mais quando você pode ver cada gota do seu sangue escorrer. Quando pode testemunhar seu próprio corpo falhando, quando vê seus olhos implorando, mesmo quando sua boca se recusa a fazê-lo.

  Ele deu um passo para o lado, deixando Lucien com uma vis?o ainda mais clara de si mesmo.

  — Esse espelho tem um propósito. Eu quero que você veja o que eu vejo. Quero que aprecie cada instante da sua dor. Quero que entenda que n?o há como escapar disso.

  Lucien engoliu seco, a respira??o acelerada. Era cruel. Era doentio. Mas funcionava.

  Ele n?o podia desviar o olhar. Ele era for?ado a assistir a si mesmo ser despeda?ado, pouco a pouco.

  O Homem Sem Nome pegou o objeto fino e afiado da mesa com a mesma calma de alguém escolhendo um talher para a refei??o. Ele o segurou entre os dedos, virando-o levemente para que o metal brilhasse sob a pouca luz da sala.

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  Lucien n?o tirava os olhos da lamina. Seu peito subia e descia de forma irregular, a respira??o entrecortada pelo medo e pela dor que já o consumia. Mas aquilo... aquilo parecia pior do que tudo que já havia sentido até agora.

  O torturador girou a lamina, analisando-a com um olhar satisfeito.

  — Sabe, Lucien, existem muitos tipos de dor. Algumas queimam, outras rasgam... e algumas s?o t?o sutis que parecem um sussurro antes de se transformarem em um grito.

  Sem aviso, ele pressionou a ponta da lamina contra o antebra?o de Lucien.

  No início, foi apenas um toque, quase gentil. Ent?o, lentamente, ele come?ou a deslizar a lamina pela pele do garoto, sem pressa, sem for?a suficiente para cortar fundo—mas o bastante para arrancar uma linha contínua de dor.

  Lucien arfou, os músculos tensos tentando se afastar do contato, mas as amarras o mantinham no lugar.

  — é engra?ado... esse tipo de corte n?o faz você gritar de imediato — continuou o Homem Sem Nome. — é uma dor diferente, uma que se infiltra aos poucos, que come?a a latejar e só piora com o tempo.

  A lamina subiu e desceu pelo bra?o de Lucien, desenhando padr?es aleatórios, abrindo sua pele milímetro por milímetro. N?o era profundo o bastante para matá-lo ou causar uma hemorragia grave—mas era mais do que suficiente para fazer seu corpo inteiro se encolher em agonia.

  Os cortes superficiais expunham a carne viva ao ar, e cada nova linha desenhada pelo torturador queimava mais do que a anterior.

  Lucien tremia. O suor escorria pelo seu rosto, misturando-se ao sangue que pingava de seus dedos. Ele ofegava, mordia o lábio, fazia de tudo para n?o dar a ele a satisfa??o de um grito.

  Mas ent?o, a lamina encontrou um ponto sensível perto do cotovelo. O corte ali foi mais lento, mais profundo.

  E Lucien n?o conseguiu se conter.

  Um grito baixo e rouco escapou de sua garganta, ressoando pela sala escura.

  O Homem Sem Nome sorriu.

  — Ah... aí está.

  Ele pressionou a lamina contra outro ponto, e Lucien soube que aquilo estava longe de acabar.

  A dor era insuportável. A cada novo corte, a carne de Lucien ardia como se estivesse sendo marcada a ferro quente. Seu corpo inteiro tremia, o suor frio escorrendo por sua testa e misturando-se ao sangue que pingava de seus bra?os. Ele queria gritar, queria lutar, mas seu corpo estava fraco demais para qualquer resistência significativa.

  No entanto, em meio à agonia, algo fez sua mente se prender em um detalhe-um detalhe pequeno, mas terrível.

  O homem o chamava de Lucien.

  N?o de Luen, o nome que ele usava para esconder sua identidade.

  Lucien sentiu o terror crescer em seu peito, se sobrepondo à dor momentaneamente. Ele se for?ou a lembrar... Ele havia se apresentado como Luen para o Homem Sem Nome. Ele nunca havia deixado escapar sua verdadeira identidade. Ent?o... como ele sabia?

  O que mais ele sabia?

  Seus olhos se arregalaram. Seus pensamentos giravam como uma tempestade dentro de sua cabe?a. Ele n?o podia perguntar diretamente-n?o queria demonstrar o panico que tomava conta dele. Mas a incerteza era esmagadora.

  O Homem Sem Nome percebeu a mudan?a na express?o de Lucien e sorriu de canto, como se saboreasse o momento.

  Ah... parece que algo te incomodou mais do que a lamina, n?o é, Lucien?

  O garoto engoliu seco. Ele sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha.

  O torturador deu uma risada baixa e se inclinou para mais perto, a voz reduzida a um sussurro quase íntimo.

  Você realmente achou que poderia se esconder de mim?

  Lucien n?o respondeu. Mas, pela primeira vez, o medo n?o vinha apenas da tortura-e sim do que aquele homem sabia sobre ele.

  O Homem Sem Nome girou a lamina entre os dedos, observando Lucien com um olhar que transbordava divers?o cruel. Ele sabia que havia atingido algo profundo—algo mais doloroso do que qualquer ferida que pudesse infligir fisicamente.

  — Sabe, Lucien, eu gosto de conhecer as pessoas antes de fazer negócios com elas. é uma quest?o de princípio. Afinal, como confiar em alguém que você n?o conhece?

  Ele sorriu, como se estivesse saboreando cada palavra antes de soltá-la no ar.

  — Ent?o eu cavei um pouco. N?o foi difícil, na verdade. Você n?o é ninguém, garoto. Um rato dos esgotos, um ladr?ozinho qualquer. Um órf?o miserável.

  Lucien cerrou os dentes. Ele n?o queria reagir. N?o queria dar a ele a satisfa??o de vê-lo fraquejar.

  Mas ent?o...

  — Uma pena o que aconteceu com seus pais, n?o é?

  Lucien sentiu o est?mago afundar.

  — Um casal t?o comum... mortos como tantos outros, e o mundo simplesmente seguiu em frente. Sequer deixaram uma marca. Se n?o fosse por você e sua irm?zinha, ninguém se lembraria deles.

  As cordas rangiam conforme Lucien tentava manter o controle. Ele respirou fundo, sentindo o ar pesado encher seus pulm?es, mas aquilo n?o acalmava a tempestade dentro dele.

  O homem inclinou a cabe?a, como se estivesse pensando.

  — Falando na sua irm?zinha... Lucy, certo?

  Lucien sentiu seu cora??o parar por um instante.

  O sorriso do homem se alargou.

  — Ah... ent?o é assim que eu te fa?o reagir? Interessante.

  Ele passou a lamina lentamente sobre a palma da própria m?o, sem tirar os olhos de Lucien.

  — Ela deve estar preocupada com você agora, n?o é? Deve estar se perguntando onde está seu querido irm?o mais velho, que prometeu protegê-la de tudo... Mas me diga, Lucien, você realmente tem feito um bom trabalho?

  Lucien rangeu os dentes, os punhos cerrados t?o forte que suas unhas cravavam na pele.

  — Você quer saber o que mais descobri sobre você? Como você se virou todos esses anos? Como teve que roubar, trapacear, mentir para sobreviver? Como mentiu para ela, dizendo que tudo ia ficar bem, quando na verdade você n?o tinha ideia de como garantir isso?

  Lucien respirava pesadamente. O ódio queimava em seu peito, mais quente que qualquer dor que aquele homem pudesse infligir.

  — Aposto que ela ainda acredita em você, n?o é? Pobrezinha... t?o ingênua. Eu poderia acabar com essa ilus?o, sabia?

  O Homem Sem Nome se inclinou para mais perto, sussurrando:

  — Poderia fazer dela um belo joguete...

  Foi o suficiente.

  As cordas estalaram quando Lucien se lan?ou para frente, seus olhos ardendo de fúria.

  — SEU DESGRA?ADO!

  O torturador apenas riu. Ele queria aquela rea??o. Ele ansiava por isso.

  — Aí está ele. Agora sim, Lucien... agora estamos nos entendendo.

  O Homem Sem Nome ergueu uma sobrancelha, ainda com aquele sorriso torto estampado no rosto. Ele se afastou alguns passos, pegando algo da mesa enquanto falava, a voz carregada de uma calma cruel.

  Sabe, Lucien... Eu poderia continuar te cortando, arrancando pedacinho por pedacinho de você, mas... você já provou ser teimoso demais. E eu n?o tenho paciência para perder tempo.

  Ele ent?o se virou, segurando um pequeno punhal entre os dedos, brincando com a lamina como se fosse um simples brinquedo.

  Ent?o, por que n?o tornamos isso mais... pessoal?

  Lucien sentiu um arrepio subir por sua espinha.

  O que quer dizer com isso?

  O Homem Sem Nome soltou uma risada baixa.

  Você realmente precisa que eu desenhe, garoto? Eu estou falando da sua querida irm?zinha. Lucy.

  Lucien sentiu o ar sair de seus pulm?es.

  N?o...

  O sorriso do torturador se alargou.

  Ah, ent?o agora eu tenho a sua aten??o.

  Ele se inclinou sobre a cadeira de Lucien, deixando o punhal ro?ar de leve contra sua bochecha ensangüentada.

  Veja bem, eu n?o sou um homem impaciente por natureza, mas quando alguém como você tenta me enganar, eu preciso agir. E, sinceramente, acho que seria um desperdício continuar te machucando sem obter nenhuma resposta. Mas é sua irm??

  Os olhos de Lucien se arregalaram.

  Você... você n?o faria isso...

  O homem gargalhou, afastando-se lentamente.

  Ah, Lucieno. Eu faria. Você n?o entende? Eu vou fazer.

  Ele girou o punhal entre os dedos mais uma vez, o tom de voz carregado de falsa compaix?o.

  E você sabe fazer o que mais? Eu nem preciso sujar minhas m?os. As ruas s?o cruéis com garotinhas sozinhas... especialmente uma como ela. Jovem, frágil... um alvo t?o fácil.

  Lucien come?ou a debater nas cordas, sentindo o panico tomar conta de seu corpo.

  N?O!

  O Homem Sem Nome apenas observava, satisfeito.

  Ent?o me diga, Lucien. Onde está a Lágrima de Aether? Porque, se você n?o falar... eu juro que na próxima vez que você ver sua irm?, será dentro de um caix?o.

  Lucien sentiu seu cora??o bater acelerado, uma respira??o pesada. O medo era esmagador. Ele n?o poderia permitir que Lucy se tornasse um alvo. Mas ele n?o sabia onde estava a maldita Lágrima!

  O desespero tomou conta dele. O que ele faria agora?

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