O sol come?ava a se esconder no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, enquanto Lucien e Lucy se preparavam para a viagem de volta. O dia no bosque havia sido repleto de risos, brincadeiras e memórias que ficariam marcadas para sempre, mas agora a pequena Lucy estava completamente exausta.
Ela segurava a m?o de Lucien com uma das suas pequenas m?os, enquanto a outra arrastava a cesta quase vazia que eles haviam levado. Seus passos eram lentos e desajeitados, claramente o resultado de toda a energia que ela havia gastado.
— Está cansada, Lucy? — perguntou Lucien, observando o cansa?o evidente no rosto da irm?.
— Um pouquinho... — respondeu ela com a voz baixa, tentando disfar?ar o quanto estava exaurida.
Lucien sorriu de canto. Ele conhecia bem a irm? e sabia que ela sempre tentava parecer mais forte do que era. Sem dizer mais nada, ele abaixou-se e pegou a cesta de suas m?os, colocando-a no ombro. Em seguida, fez sinal para que ela subisse em suas costas.
— Vamos, suba. N?o vou deixar você cair.
— Mas eu já estou grande para isso! — protestou Lucy, com um tom emburrado, mas os olhos denunciavam que ela queria aceitar a oferta.
— Grande ou n?o, ainda é minha irm?zinha. Agora sobe logo, antes que eu mude de ideia.
Lucy deu um sorriso pequeno, mas genuíno, antes de ceder. Subiu nas costas de Lucien, e ele a ergueu com facilidade. A caminhada até onde o felino mágico os esperava seria mais tranquila assim.
Quando chegaram à clareira onde o condutor e o felino descansavam, o homem estava sentado sob a sombra de uma árvore, mastigando um peda?o de p?o seco. Ele olhou para os dois e soltou uma risada baixa ao ver Lucy praticamente dormindo no ombro do irm?o.
— Parece que a princesa gastou toda a energia hoje — comentou ele, apontando para Lucy com um sorriso simpático.
— é, ela brincou como se n?o houvesse amanh? — respondeu Lucien, ajeitando a posi??o dela em suas costas. — Mas valeu a pena.
— Sempre vale — disse o condutor, levantando-se e dando uma batidinha na lateral do felino, que prontamente se espregui?ou e se colocou em pé.
O homem ajudou Lucien a acomodar Lucy sobre o felino com cuidado, certificando-se de que ela estivesse bem apoiada. Assim que tudo estava pronto, ele deu um comando curto, e o felino come?ou a andar lentamente, saindo do bosque.
O caminho de volta foi silencioso. Lucy estava quase dormindo, e Lucien aproveitava a tranquilidade para pensar. O dia havia sido perfeito, mas agora sua mente já come?ava a voltar para as responsabilidades e para o trabalho que o esperava. Ele precisava garantir que dias como aquele se tornassem comuns para Lucy, e a única forma de fazer isso era concluindo sua miss?o com perfei??o.
Enquanto as árvores do bosque ficavam para trás, Lucien olhou uma última vez para o lago azul brilhante, agora refletindo as estrelas que come?avam a surgir no céu.
— Esse foi um dia que valeu cada segundo — murmurou para si mesmo, apertando levemente a m?o de Lucy para garantir que ela estava segura.
E, com esse pensamento, ele deixou o bosque para trás, decidido a transformar promessas em realidade.
Ao chegar à cidade, Lucien desceu do felino mágico e agradeceu ao domador pela ajuda. O homem acenou com um sorriso amigável antes de partir com sua criatura majestosa, desaparecendo entre as ruas iluminadas pela luz bruxuleante dos lampi?es.
Lucien continuava a carregar Lucy calmamente em suas costas. Ela agora estava completamente adormecida, como uma pedra. Seus pequenos bra?os estavam soltos ao redor do pesco?o dele, e o som suave de sua respira??o era a única coisa que ele ouvia enquanto caminhava pelas ruas silenciosas.
Demorou alguns minutos até que ele alcan?asse a casa de madeira onde moravam. O lugar estava exatamente como o haviam deixado ao sair. A constru??o simples, de tábuas envelhecidas pelo tempo, era uma das poucas coisas que seus pais haviam conseguido deixar para eles.
Lucien entrou na casa com cuidado, tentando n?o fazer barulho para n?o acordar a irm?. A porta rangeu levemente, revelando o interior quase vazio. A casa, que outrora fora acolhedora e repleta de memórias, agora parecia fria e abandonada.
As mobílias que preenchiam cada canto do lar haviam desaparecido aos poucos. Lucien foi for?ado a vendê-las para conseguir alguns trocados e garantir a sobrevivência dos dois. Restavam apenas os itens essenciais: uma mesa velha, um colch?o gasto e alguns utensílios básicos.
Ele n?o se arrependia das decis?es que tomou — cada objeto vendido significava mais um dia em que Lucy tinha o que comer ou vestir —, mas n?o podia evitar o peso da culpa que carregava. Livrar-se dos pertences de seus pais, que haviam trabalhado tanto para conquistá-los, era como apagar parte da história deles.
Lucien olhou ao redor e suspirou, sentindo um aperto no peito. Seus pais eram pessoas simples, mas trabalhadoras. O pai, com suas m?os calejadas, passava os dias em trabalhos bra?ais, enquanto a m?e, com olhos atentos e m?os habilidosas, costurava roupas para os moradores da cidade. Seus salários eram modestos, mas, mesmo assim, conseguiram criar dois filhos com amor e dedica??o, mantendo-os alimentados e saudáveis.
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Com cuidado, Lucien levou Lucy até o pequeno colch?o no canto do quarto e a deitou suavemente. Ele puxou um cobertor fino sobre ela, observando por um momento o rosto sereno da irm? adormecida.
Seus pais estavam mortos. Tudo que Lucy tinha agora era Lucien, e tudo que Lucien tinha era Lucy. Eles só podiam contar um com o outro. O Reino, com seus nobres de mantos opulentos e vozes altivas, n?o se importava com crian?as órf?s ou com a dor daqueles que viviam à sombra da riqueza e do poder. Ninguém levantava um dedo de seus tronos acolchoados para ajudar. Para eles, Lucien e sua irm? n?o eram nada além de poeira no vento — insignificantes demais para merecer qualquer esfor?o.
A memória da humilha??o ainda queimava como brasas em sua mente. Ele se lembrava claramente de quando, ainda mais jovem, tentou buscar ajuda diretamente do rei após perder os pais. Era um ato de desespero, movido pela ingênua esperan?a de que o monarca, com toda sua grandiosidade, pudesse mostrar um mínimo de compaix?o. No entanto, Lucien nem sequer foi permitido passar pelos grandes port?es ornamentados que protegiam o castelo.
Os guardas, com suas armaduras polidas e sorrisos de escárnio, barraram sua entrada com firmeza. "O rei n?o tem tempo para camponeses", disseram, como se sua dor fosse uma afronta à majestade. Lucien recordava da sensa??o de impotência, do nó na garganta que parecia sufocá-lo enquanto voltava para casa de m?os vazias, com os olhares de desdém queimando em suas costas.
A verdade era dura e cruel: seus pais eram fracos. Trabalhadores humildes que, no final, foram esmagados pelo peso de um sistema que só valoriza os fortes. Seu pai morreu em um servi?o exaustivo, explorado por aqueles que lucravam com o suor alheio. E sua m?e...
Lucien apertou os punhos enquanto o rosto de sua m?e surgia em sua mente, junto com a lembran?a de seu olhar desesperado. Ela foi assassinada, morta pelas m?os de homens cruéis a quem implorou por dinheiro para sustentar os filhos. Tudo porque n?o conseguiu pagar o que devia.
E onde estavam o rei e seus cavaleiros durante tudo isso? Ocupados em banquetes, bebendo vinho e discutindo políticas que nunca alcan?avam os miseráveis. Eles n?o fizeram nada. Nada para impedir que sua família fosse despeda?ada. Nada para proteger sua m?e ou seu pai. Para eles, Lucien e Lucy eram irrelevantes.
O ódio crescia em seu peito como uma chama incontrolável. Ele odiava o Reino, odiava o rei, odiava os nobres que ignoravam o sofrimento daqueles que trabalhavam e morriam por eles. Lucien jurou que nunca mais pediria contaria com os nobres como havia feito naquele dia humilhante. Ele n?o era mais a crian?a desesperada que implorava por ajuda.
Agora, ele entendia. Neste mundo, apenas os fortes sobrevivem. Se o Reino n?o se importava com ele, ent?o ele faria o mesmo. Ele seria forte, n?o por si mesmo, mas por Lucy. Ele rasgaria as correntes que o prendiam, nem que fosse necessário queimar o próprio Reino que o abandonou.
— Eu vou fazer valer todo o esfor?o... — murmurou para si mesmo, os olhos fixos no teto desgastado.
Lucien sabia que, por mais difícil que fosse, ele continuaria lutando. N?o só para honrar a memória de seus pais, mas também para garantir que Lucy tivesse um futuro melhor do que o passado que eles deixaram para trás.
Em seis dias, tudo mudaria. Seis dias era o que ele precisava para transformar o destino dele e de Lucy, para arrancá-los da miséria e construir algo grandioso. Lucien segurava firme essa determina??o. Ele havia enfrentado muito para chegar até ali, e nada, nem mesmo um grande mestre, seria capaz de detê-lo.
O alvo era complicado, isso era inegável. Um dos mestres mais respeitados do Reino, conhecido por sua habilidade em magia rúnica e por manter artefatos de valor inestimável sob sua prote??o. Ele n?o era apenas poderoso, mas também meticuloso, cercando-se de medidas de seguran?a que intimidariam qualquer ladr?o.
Mas Lucien n?o era qualquer ladr?o.
Ele tinha a planta da mans?o do mestre, cada corredor, cada quarto, cada possível saída de emergência marcada com precis?o. O mapa mostrava armadilhas mágicas, guardas e os locais mais prováveis onde os tesouros estavam escondidos. Ele tinha a informa??o mais valiosa: onde o item que buscava estava guardado. A Lágrima de Aether — o artefato capaz de mudar suas vidas para sempre.
Lucien se sentou à mesa de madeira desgastada de sua casa. O ambiente era silencioso, com exce??o da respira??o leve de Lucy, que dormia no quarto ao lado. Diante dele, a planta da mans?o estava esticada, iluminada pela chama trêmula de uma vela.
"O grande mestre..." ele pensou, observando a planta com olhos afiados. "Ele n?o faz ideia de quem está prestes a cruzar as portas de sua fortaleza."
Ele come?ou a esbo?ar mentalmente o plano. Primeiro, a entrada: o port?o principal era bem guardado, mas havia uma entrada lateral usada por empregados que parecia menos vigiada. Era arriscado, mas viável. Depois, ele precisaria desativar as armadilhas mágicas — algo que levaria tempo e concentra??o.
Ent?o, o cofre. Esse era o cora??o do desafio. O homem sem nome disse que ele era protegido por um intrincado sistema de runas, criado pelo próprio mestre. Mas Lucien tinha uma arma secreta: um artefato menor que havia conseguido em um dos seus trabalhos recentes, supostamente capaz de anular certos encantamentos rúnicos.
"Tudo o que preciso é de precis?o, paciência e frieza."
O maior risco, ele sabia, n?o era o cofre ou as armadilhas. Era o mestre em si. Se Lucien fosse descoberto, enfrentaria um dos homens mais poderosos do Reino. Mas ele n?o permitiria que isso acontecesse. Ele faria o impossível parecer inevitável.
Lucien respirou fundo, dobrando o mapa cuidadosamente. Ele tinha seis dias para preparar tudo. Seis dias para aperfei?oar cada detalhe. Seis dias para garantir que o futuro dele e de Lucy fosse transformado.
Ele olhou na dire??o do quarto onde sua irm? dormia. "Por você, Lucy. Por nós."
Seis dias. Esse foi o tempo que Lucien teve para planejar o impossível.
Agora, ali estava ele, oculto pelas sombras, a apenas alguns metros de um dos maiores desafios de sua vida: a mans?o do grande mestre. O lugar era uma fortaleza de pedra, guardada por encantos t?o antigos quanto o próprio reino. No cora??o daquele labirinto, escondida sob camadas de seguran?a mágica e física, estava a Lágrima de Aether, um artefato t?o valioso que apenas seu nome poderia inspirar guerras.
Lucien n?o era tolo. Sabia que o que estava prestes a fazer era arriscado, quase suicida. Mas ele também sabia que o destino de Lucy, que no momento estava sobre aos cuidados de dona Marília, dependia disso. Ele n?o poderia falhar. N?o dessa vez.
Enquanto observava de longe, o peso da noite parecia sufocante, como se o próprio mundo estivesse prendendo a respira??o. A cada passo que desse, ele estaria mais próximo do sucesso ou de um desastre irremediável.
E ent?o, em meio à escurid?o, ele deu o primeiro passo.